Nelson Pelozo

tratamentos

Deformidade em pé plano

A deformidade em pé plano, caracterizada pela perda do arco plantar longitudinal medial, é muito comum na infância e geralmente considerada uma posição fisiológica do pé e tornozelo durante o desenvolvimento adaptativo do esqueleto até a idade adulta. Habitualmente, trata-se de pés flexíveis e indolores, decorrentes da frouxidão ligamentar própria do esqueleto imaturo da criança. No entanto, é fundamental avaliar casos com limitação funcional, rigidez ou dor, a fim de excluir malformações congênitas.

Na fase adulta, a fisiopatologia da deformidade em pé plano se altera. A preocupação passa a ser com pés dolorosos e com deformidade progressiva, geralmente associada à disfunção do tendão tibial posterior e à falência dos ligamentos deltóide e spring. Nesses casos, o tratamento conservador com palmilhas, reabilitação e infiltrações costuma aliviar os sintomas e pode retardar a necessidade de cirurgia. A intervenção cirúrgica está indicada nos casos refratários ao tratamento conservador, com técnicas que vão desde procedimentos minimamente invasivos, como tenoscopia do tendão tibial posterior, até cirurgias mais complexas, como artrodeses modelantes e reconstruções ósseo-articulares.

Comentários do artigo

O artigo analisado propõe a padronização de um novo sistema de classificação para o pé plano, anteriormente denominado “pé plano adquirido do adulto” ou “transtorno do tendão tibial posterior”.

O novo sistema introduz a nomenclatura PCFD (Progressive Collapsing Foot Deformity), que enfatiza o padrão progressivo de colapso estrutural do pé e a evolução da dor. Essa condição pode resultar do colapso de diferentes componentes ósseos, ligamentares e tendíneos — seja pela perda de função do tendão tibial posterior, falência dos ligamentos mediais (como o deltóide e o spring) ou deformidades ósseas que acometem retropé, mediopé e antepé.

Nos casos mais avançados, a patologia pode gerar impactos articulares com subsequente desenvolvimento de deformidades e artrose.

A classificação proposta utiliza critérios clínicos e radiológicos, organizando os achados em cinco componentes:

  • A: valgo do retropé;
  • B: abdução do mediopé/antepé;
  • C: supinação ou instabilidade da coluna medial;
  • D: impacto (impingement) da articulação subtalar;
  • E: valgo (tilt) do tornozelo.

Essa sistematização permite uma visão mais abrangente da patologia e auxilia na definição de condutas individualizadas, indicando o tratamento adequado para cada componente envolvido.